Amado Rev Ronildo,
Aproveitando seu convite para o trabalho com a
Edméia Williams (não pude estar presente) e como sou conhecedor das posições que
alguns amados irmãos do nosso presbitério têm a respeito do ceder o púlpito de
uma igreja presbiteriana para que uma mulher pregue, gostaria de tecer um breve
comentário. Deixo claro que respeito estes irmãos, pois na sua maioria são
fiéis e verdadeiras suas intenções para com nossa amada igreja. Por outro lado,
creio firmemente que não podemos deixá-los expor unilateralmente suas idéias
sob risco de sentirem-se os únicos verdadeiros nesta seara.
Não tenho dúvidas de que nossa amada Igreja tem
sofrido nos últimos 25 anos (talvez até mais um pouco) muita pressão nesta área
da ordenação feminina. E pelo que tenho visto sofrerá ainda muito mais,
principalmente pelo fato de haver em nossas hostes uma pequena ala mais radical
que demoniza todos que não tenham posição sobre este assunto ou tenham uma
posição contrária.
A primeira coisa que percebo nesta discussão é que
não há neutralidade ou aquela “istória” de que vamos estudar para entender o
assunto. A maioria chega à discussão já com idéias pré-concebidas (apoiando um
lado ou outro). Percebo também que é um dos poucos assuntos onde praticamente
só temos 2 lados e por uma fatalidade do destino os ultra-calvinistas puritanos
e fundamentalistas estão de braços dados com boa parte dos só calvinistas. Do
outro lado estão os hereges. Outro fator que me seduz é o fato de cada lado ter
sua particular interpretação sobre os textos bíblicos, abusando dos
comentários, expositores, exegetas e das variações gramaticais que normalmente
o texto permite, logo, todos arrogam o direto de estar exegeticamente corretos,
não podendo nenhum dos 2 lados acusar o outro de infidelidade escriturística.
Por fim, percebemos que os igualitaristas e os diferencialistas mesmo sendo
cristãos e conhecedores das escrituras costumam utilizar de argumentos fora dos
contextos para denegrir a posição contrária. Isso é normal em qualquer guerra
(santa).
Agora vem o motivo que lhe escrevo. Tenho lido
alguma coisa sobre este assunto, e verifiquei uma falha gritante nesta
discussão (arrogância santa!!!). Não é nada na exegese ou na hermenêutica dos
digladiadores. Vou direto ao ponto: é o último ataque de Satanás. Qual o
objetivo deste ataque? Inverter o papel do homem não só no contexto familiar
como também na sociedade. Imagino que está por trás de toda este clamor
feminista por direitos iguais exatamente um objetivo mais cruel. Interessante é
que mesmo antes de conseguir sua vitória final com as mulheres, ele ataca na
mesma direção para que os homossexuais também tenham direitos iguais. Por mais
que concordemos que não é o fato de ser mulher que ela é inferior ao homem,
pois sabemos que somos todos iguais (da mesma forma que a Trindade é), porém há
uma ORDEM (1 Tm 2:13), tanto na Trindade quanto na sociedade. Quando Satanás
partiu para convencer (já fez isso uma vez com sucesso) a mulher, agora com a
conivência e o apoio do homem, de que a ELA pode assumir a frente de batalha, o
oficio de comandar, de dirigir, da autoridade, o que está fazendo é
simplesmente quebrar e romper irreparavelmente a ORDEM. Para quem carregou o
peso da culpa pelo canto da “serpente” por tanto tempo, imagino que tem sido
muito mais difícil resistir a esta “última tentação de Eva”. É incrível quando
notamos que o maior pecado de Lúcifer foi exatamente este: sonhar em inverter a
ORDEM (veja Is 14:13-14). Acabou derrubado. Não satisfeito em separar o homem de
Deus (com a ajuda da mulher), ele quer agora quebrar a ORDEM social
estabelecida por Deus. Quebrar esta ordem é a última barreira para seu plano
destrutivo. Imagino que é muito mais grave ver o Diabo quebrar ou inverter a
ordem social do que deixar a mulher pregar! Estamos preocupados com o cisco e
não vemos as traves!
Antes que entenda mal, como sou calvinista
convicto, não apoio a ordenação feminina. Entretanto, como sou calvinista
praticante, apoio que a mulher a qual Deus concedeu dons e talentos especiais,
também possam vir a ser vocacionadas a pregar, ensinar, instruir, ou seja,
exercer seu papel na sociedade que Deus a colocou com a missão de anunciar a
toda criatura as maravilhas do reino divino. Aos homens cabe o oficio,
simplesmente por falta de apoio bíblico e exemplo apostólico para que as
mulheres também exerçam os ofícios. Mas não consigo entender que Deus tirou,
impediu, castrou a capacidade das mulheres para que leiam sua Palavra e
auxiliem, ajudem, cooperem (lembra da Eva auxiliadora?) para que este evangelho
seja pregado até aos confins da terra. Não consigo ver na recomendação de Paulo
a Timóteo que as mulheres tenham que ficar caladas e aprenderem em silêncio,
que isso implica em uma total impossibilidade delas terem voz. Esta mesma Palavra
nos garante que somos (homens e mulheres) uma nação santa, sacerdotes reais,
povo adquirido para anunciar as virtudes daquele que nos chamou das trevas. Se
elas são sacerdotes, porque não pode anunciar as virtudes? O “ide” e pregai é
uma ordem universal. Se impedirmos que as mulheres preguem, estaremos
forçando-as a serem desobedientes a única ordem de Cristo (vingança
masculina?).
Me perdoe se fui reducionista no assunto, mas não
consigo entender que ele seja só uma questão de exegese bíblica e que por isso
uma mulher não pode pregar no púlpito de uma igreja presbiteriana, mas sim
gostaria muito de ver este assunto ser discutido sob a ótica da ordem criativa
e determinativa de Deus e deixem que elas preguem!
Acatarei com grande humildade suas criticas à minha
arrogância.
Um
grande abraço, meu amado pastor.